sábado, 12 de dezembro de 2009

Quando a melhor solução é "não fazer nada". O exemplo Chryseia

"(Não) usar o espaço em branco é uma decisão importante em design e aprender a fazê-lo pode levar anos. (...) O trabalho do designer pode também ser a decisão de não fazer nada". Esta ideia do designer eslovaco Peter Bilak tem já mais de uma década mas mantém-se actual e trazê-la para este post ganha pertinência. Ora o "não fazer nada" é fazer muito...

Vem isto a propósito da exuberância gráfica, geralmente de má qualidade, que ostentam muitos dos rótulos actuais de bons vinhos portugueses. Se a iconografia (ilustração ou fotografia), quando entra, parece condenada a um nível muito pouco interessante, já a tipografia espelha o que tem sido a nossa herança cultural mais deficitária em termos de design gráfico. No passado (o das litografias e dos artistas gráficos que seguiam a tradição), o panorama nunca foi brilhante. A situação hoje em dia, contudo, parece ter piorado. Em grande parte resultado do acesso fácil, por amadores, às tecnologias gráficas digitais mas, também, das fornadas de jovens designers mal preparados que todos os anos entram em actividade (temos hoje em Portugal demasiadas universidades e politécnicos com oferta em design).

Em contraponto, e na sequência da ideia apresentada por Bilak, trazemos a imagem de um vinho do Douro conhecido pela sua qualidade: o Chryseia da parceria Prats & Symington. A predominância do espaço em branco e a ausência de artifícios ou tiques gráficos, revelam a presença de um carácter forte que vale por si só. A escolha dos tipos de letra (a elegância humanística do moderno Gill Sans combinado com o serifado para o ano de colheita), a composição e o espaço branco envolvente, o preto e cinza do cromatismo, a qualidade do papel e o relevo da bordadura mereceram atenção e, como se depreende, projecto.

Na verdade, fugindo do panorama de excessos e amadorismos, o rótulo do vinho Chryseia tem personalidade e é eficaz. Não nos irrita, não nos distrai, não nos remete para banalidades nem nos transporta para simbolismos artificiosos: abre-nos a porta para o essencial – a sua essência. Brindemos a ela! 





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