segunda-feira, 14 de junho de 2010

Branca de Almeida/Bela Silva

A imagem do vinho Branca de Almeida Tinto 2004, da Herdade dos Coelheiros, merece um elogio. O seu rótulo apresenta, em diálogo coerente e de bom gosto, informação e poética. Impresso num papel de qualidade e a ouro — adequados a um vinho de preço considerável —, nele se combina a imagem pictórica da artista Bela Silva com a informação bem desenhada (composição clássica do texto, em triângulo, encimada pela elegante marca tipográfica da casa produtora). A reprodução, em estilo art déco, mostra uma cena (aparente) de caça, em tons avermelhados. Remete para a pintura alegórica, pelo seu carácter simbólico, propondo uma leitura aberta: duas figuras femininas conversam montadas num cavalo com cabeça de cão, alheadas dos cães e gamos que as rodeiam.

Merece, também, nota positiva a caixa que acompanha a garrafa. Embalagem global que constitui uma bela oferta ao mesmo tempo que dignifica o investimento no vinho.

O único senão prende-se com o chamado contra-rótulo: não se entende a opção pelo tipo Kabel para o texto descritivo. A relação entre o estilo da pintura e do tipo de letra — art déco — não se justifica para um texto informativo tão extenso. A sua composição não acompanha a qualidade do rótulo, apresenta aberturas (pela coluna de texto justificada e sem hifenização), e uma relação corpo/entrelinha negligente. A corrigir numa próxima edição.

Depois da crítica negativa aos rótulos que reproduzem imagens de artistas com design insípido ou descaracterizado, a imagem do vinho Branca de Almeida vem provar que as artes plásticas (pintura, desenho) ou a ilustração podem potenciar o carácter, a comunicação e o valor de um vinho desde que os requisitos de design global sejam assegurados.