sexta-feira, 1 de julho de 2011

Joana Vasconcelos, Esporão - design e autoria

Habituámo-nos (e ainda bem) a reconhecer que em design o autor não é o mais importante. Por detrás dos artefactos ou mensagens eficazes, o anonimato credibiliza ainda mais as suas qualidades. Já quanto à obra artística (essencialmente a contemporânea), sem o referente autoral perde valor e sentido: dessacraliza-se.

Os rótulos dos Esporão Reserva e Private Selection são bem desenhados e marcam a diferença. E são rótulos de artista. Desde o seu lançamento, em todos as publicações onde apareceram, se deu destaque à autora das imagens neles reproduzidas – Joana Vasconcelos. Reconhecida hoje como uma das artistas mais mediáticas em Portugal, Joana Vasconcelos precisa do estatuto autoral, e da fama, para que a sua obra se afirme. O seu trabalho não reflete o apego oficinal (ainda que dele se sirva) das belas-artes tradicionais; procura antes na formalização das ideias que trabalha, o seu sentido e a sua expressão. E não se torna relevante se produz composições/narrativas com plásticos, rendas ou tachos; se falam de luxo, da condição feminina ou de outras mitologias. Desligadas da autora, as obras de Joana Vasconcelos não resistiriam e correriam o risco de serem lidas como uma espécie de objetos Guinness of Records. O "não fazer" material – do desenho, da habilidade, do tique ou da expressão plástica – precisa quase sempre, para se aplaudir, que se abra a cortina autoral (para além da literatura e do marketing, claro).

Acontece que o autor da imagem global dos rótulos em causa é um designer. Mas, como se reconheceu no início deste texto, a sua invisibilidade imperou e o designer/autor nunca foi referido nas notícias. Nem precisava. Contudo, foi a excelente qualidade do design dos rótulos que permitiu que Joana Vasconcelos brilhasse. Sabemos nós que foi Eduardo Aires quem desenhou os rótulos: escolheu as peças, trabalhou as imagens, compôs o texto, definiu processos de impressão, coordenou e aprovou resultados. Resumindo, projetou.

Se o design gráfico se limitasse a uma mera operação técnica – como muitos ainda o entendem – jamais a qualidade dos rótulos Esporão seria esta!