segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Sexy... Ma non troppo

A cor dos vinhos rosé tem uma forte carga apelativa. Muitos acrescentarão que também erótica. E tanto assim é que essa carga sensual tem sido explorada, quer através da própria imagem da garrafa, quer pela publicidade associada. Em Portugal, depois de alguma euforia, a moda dos rosés parece ter amainado...
Devemos começar por dizer que não será nova nem descabida a associação dos "prazeres da carne" aos prazeres do vinho. Mal ao mundo também não traz, já que sexo e vinho são "obras" da maturidade. A própria história mais remota do vinho contém exemplos eloquentes sobre esta ligação. Na mitologia das antigas civilizações da Mesopotâmia, por exemplo, conta-se que Inana, deusa do amor e fertilidade, utilizou o vinho como estratégia para seduzir os deuses do sexo oposto.

Os rótulos dos vinhos SEXY (Rosé, Tinto e Branco), da empresa Fita Preta, são bem desenhados: clara e eficaz hierarquia da informação (composta numa bela tipografia que combina moderno e clássico); bom equilíbrio de composição (espaço generoso envolvendo o nome); esteticamente elegantes. A escolha de cores segue o mesmo critério estilístico entre a tradição e a modernidade (questiona-se apenas a opção um tanto adstringente pelo rosa amagentado no Tinto). Resumindo: grafismo irrepreensível, jovem e macio, que parece ir de encontro à própria natureza do vinho alentejano proposto.
Acontece que a imagem projectada pelos rótulos SEXY, de sexy só tem o nome. É tudo menos erótica, ao contrário do que o próprio título literalmente quer sugerir. Nenhuma mulher ou homem será sexy por dizer que o é. E menos ainda por ostentar esse título. O erotismo constrói-se na interacção, não surge da imposição. Vivencia-se pelas sugestões, não pelas evidências. Ficamos com a sensação de que a adopção do nome não passou de uma estratégia de marketing.

A proposta deste conceito deveria ter sido visualmente mais consequente. Estamos em crer que faltou a opção iconográfica, que revelasse o erotismo de forma inteligente. Imagens que certamente dispensariam depois a evocação escancarada, pseudo-irreverente do nome, e que, com naturalidade, ancorariam o vinho nessa semântica de sensualidade. Dirão alguns que facilmente se poderia correr o risco de cair em "pornografias visuais"... Por isso o adjectivo "inteligente" faz toda a diferença. É que a qualidade da retórica visual para aqui requerida, tal como o erotismo, é um saber criativo que não estará ao alcance de todos.

1 comentário:

  1. Gosto imenso destes rótulos.As imagens são tão suaves, que é como se estivessem a evidenciar ou a realçar, de imediato, as qualidades do vinho, sem as mostrar directamente.

    ResponderEliminar