Na sequência da ideia aqui exposta sobre a credibilidade em design, trazemos o exemplo dos vinhos do Douro Churchill's Estates, cuja imagem, renovada recentemente por uma agência inglesa, constitui, em nosso entender, uma boa solução.
Os rótulos dos vinhos Churchill's Estates apresentavam já um grafismo cuidado (rótulos elegantes e criteriosos, com soluções tipográficas simples mas sérias). Contudo, a sua alteração recente, veio trazer-lhes maior expressão e carácter. Carácter esse que provém do recurso a uma iconografia semântica e plasticamente rica, embora partindo de um modelo tradicional. Os rótulos caracterizam-se por conterem, em dimensão ousada (nomeadamente o Quinta da Gricha), belas imagens a preto — texturas gráficas de penteados de vinhas — que nos revelam uma outra imagem do Douro. Esta visão aérea das quintas, longe do ponto de vista cliché dos socalcos ladeando o rio, alia informação à expressão (da ideia, da textura e da cor). A nova representação não trai o referente nem o seu carácter, antes os reafirma, e ensina-nos que a iconografia do Douro não se esgota nem precisa de perder o seu sentido, na ânsia de se "modernizar".
Para aqueles produtores que não reconhecem a necessidade de mudança na imagem dos seus vinhos (porque ainda não reconhecem o problema); para aqueles que insistem em nada mudar (e que usam argumentos pouco credíveis); ou ainda para aqueles que mudam mas que deixam tudo na mesma, ou pior, (porque seguem estratégias e opiniões de design pouco avalizadas): a nova imagem Churchill's Estates é um exemplo eloquente! E não será necessário deslocarem-se até às Ilhas Britânicas (de onde escrevemos este post) para lhe seguirem a eloquência.
segunda-feira, 28 de dezembro de 2009
sexta-feira, 18 de dezembro de 2009
Credibilidade
Não nos agrada a ideia de que o carácter dos vinhos portugueses possa ser "mandado à fava" em favor de estratégias de marketing (que se consideram sempre as mais modernas e de maiores probabilidades de retorno imediato).
Somos muito críticos relativamente à actual má imagem dos vinhos portugueses mas também não somos favoráveis ao entusiasmo de alguns, que alinham pelos "belos exemplos australianos ou californianos". Dizemos belos porque o são de facto, graficamente... A sua criatividade, artística e comunicacional — mesmo na vertente mais informativa —, surpreende-nos a todo o momento. Contudo, quantas vezes não nos interrogamos se não estamos antes na presença de embalagens (o termo "packaging" torna-se parolo, pretensioso, na língua portuguesa) de perfumes ou de óleos de massagens, de brindes publicitários ou, quando muito, de tisanas adocicadas ou licores de tudo?! Para esses estrategas pouco importará desenhar, promover, vender, consumir o vinho como se fosse refrigerante; como se o grafismo, a imagem, o conceito, a cultura em si pudessem ser subvertidos e submetidos a esses travestismos.
A credibilidade, tão em falta na sociedade contemporânea e no design em particular, vê-se assim ainda mais ameaçada. Ser credível em design (como no vinho, nos negócios, na vida) é um imperativo ético, que se repercute valorizando as relações humanas e a nossa sociedade em geral.
Somos muito críticos relativamente à actual má imagem dos vinhos portugueses mas também não somos favoráveis ao entusiasmo de alguns, que alinham pelos "belos exemplos australianos ou californianos". Dizemos belos porque o são de facto, graficamente... A sua criatividade, artística e comunicacional — mesmo na vertente mais informativa —, surpreende-nos a todo o momento. Contudo, quantas vezes não nos interrogamos se não estamos antes na presença de embalagens (o termo "packaging" torna-se parolo, pretensioso, na língua portuguesa) de perfumes ou de óleos de massagens, de brindes publicitários ou, quando muito, de tisanas adocicadas ou licores de tudo?! Para esses estrategas pouco importará desenhar, promover, vender, consumir o vinho como se fosse refrigerante; como se o grafismo, a imagem, o conceito, a cultura em si pudessem ser subvertidos e submetidos a esses travestismos.
A credibilidade, tão em falta na sociedade contemporânea e no design em particular, vê-se assim ainda mais ameaçada. Ser credível em design (como no vinho, nos negócios, na vida) é um imperativo ético, que se repercute valorizando as relações humanas e a nossa sociedade em geral.
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sábado, 12 de dezembro de 2009
Quando a melhor solução é "não fazer nada". O exemplo Chryseia
"(Não) usar o espaço em branco é uma decisão importante em design e aprender a fazê-lo pode levar anos. (...) O trabalho do designer pode também ser a decisão de não fazer nada". Esta ideia do designer eslovaco Peter Bilak tem já mais de uma década mas mantém-se actual e trazê-la para este post ganha pertinência. Ora o "não fazer nada" é fazer muito...
Vem isto a propósito da exuberância gráfica, geralmente de má qualidade, que ostentam muitos dos rótulos actuais de bons vinhos portugueses. Se a iconografia (ilustração ou fotografia), quando entra, parece condenada a um nível muito pouco interessante, já a tipografia espelha o que tem sido a nossa herança cultural mais deficitária em termos de design gráfico. No passado (o das litografias e dos artistas gráficos que seguiam a tradição), o panorama nunca foi brilhante. A situação hoje em dia, contudo, parece ter piorado. Em grande parte resultado do acesso fácil, por amadores, às tecnologias gráficas digitais mas, também, das fornadas de jovens designers mal preparados que todos os anos entram em actividade (temos hoje em Portugal demasiadas universidades e politécnicos com oferta em design).
Em contraponto, e na sequência da ideia apresentada por Bilak, trazemos a imagem de um vinho do Douro conhecido pela sua qualidade: o Chryseia da parceria Prats & Symington. A predominância do espaço em branco e a ausência de artifícios ou tiques gráficos, revelam a presença de um carácter forte que vale por si só. A escolha dos tipos de letra (a elegância humanística do moderno Gill Sans combinado com o serifado para o ano de colheita), a composição e o espaço branco envolvente, o preto e cinza do cromatismo, a qualidade do papel e o relevo da bordadura mereceram atenção e, como se depreende, projecto.
Na verdade, fugindo do panorama de excessos e amadorismos, o rótulo do vinho Chryseia tem personalidade e é eficaz. Não nos irrita, não nos distrai, não nos remete para banalidades nem nos transporta para simbolismos artificiosos: abre-nos a porta para o essencial – a sua essência. Brindemos a ela!
Vem isto a propósito da exuberância gráfica, geralmente de má qualidade, que ostentam muitos dos rótulos actuais de bons vinhos portugueses. Se a iconografia (ilustração ou fotografia), quando entra, parece condenada a um nível muito pouco interessante, já a tipografia espelha o que tem sido a nossa herança cultural mais deficitária em termos de design gráfico. No passado (o das litografias e dos artistas gráficos que seguiam a tradição), o panorama nunca foi brilhante. A situação hoje em dia, contudo, parece ter piorado. Em grande parte resultado do acesso fácil, por amadores, às tecnologias gráficas digitais mas, também, das fornadas de jovens designers mal preparados que todos os anos entram em actividade (temos hoje em Portugal demasiadas universidades e politécnicos com oferta em design).
Em contraponto, e na sequência da ideia apresentada por Bilak, trazemos a imagem de um vinho do Douro conhecido pela sua qualidade: o Chryseia da parceria Prats & Symington. A predominância do espaço em branco e a ausência de artifícios ou tiques gráficos, revelam a presença de um carácter forte que vale por si só. A escolha dos tipos de letra (a elegância humanística do moderno Gill Sans combinado com o serifado para o ano de colheita), a composição e o espaço branco envolvente, o preto e cinza do cromatismo, a qualidade do papel e o relevo da bordadura mereceram atenção e, como se depreende, projecto.
Na verdade, fugindo do panorama de excessos e amadorismos, o rótulo do vinho Chryseia tem personalidade e é eficaz. Não nos irrita, não nos distrai, não nos remete para banalidades nem nos transporta para simbolismos artificiosos: abre-nos a porta para o essencial – a sua essência. Brindemos a ela!
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quarta-feira, 9 de dezembro de 2009
Design caseiro nos vinhos portugueses
O conhecido "Relatório Porter" é um estudo importante, estratégico, para o sector vitivinícola português. Sem pretendermos fazer qualquer juízo global sobre a sua natureza e actualidade, trazemos aqui um pequeno excerto do "Porter 1 - Activar a Estratégia do Cluster do Vinho" (2003), onde se faz o diagnóstico acertado sobre a imagem dos vinhos portugueses e se aponta uma saída. Nele encontramos, também, a justificação para a existência deste blogue.
"Apesar da qualidade do produto que se encontra dentro da garrafa, demasiados vinhos portugueses não serão escolhidos pelo consumidor se tiverem de competir pela sua atenção com as garrafas fáceis de identificar e de design apelativo de vinho proveniente de países do Novo e do Velho Mundo. Em Portugal, muito do trabalho de design é efectuado informalmente por familiares ou amigos, e apesar de haver alguns bons exemplos, a maioria dos resultados em termos de design tem o valor do seu custo. As empresas do cluster deverão tentar recorrer a serviços profissionais para criar vinhos que são atractivos para os consumidores."
"Apesar da qualidade do produto que se encontra dentro da garrafa, demasiados vinhos portugueses não serão escolhidos pelo consumidor se tiverem de competir pela sua atenção com as garrafas fáceis de identificar e de design apelativo de vinho proveniente de países do Novo e do Velho Mundo. Em Portugal, muito do trabalho de design é efectuado informalmente por familiares ou amigos, e apesar de haver alguns bons exemplos, a maioria dos resultados em termos de design tem o valor do seu custo. As empresas do cluster deverão tentar recorrer a serviços profissionais para criar vinhos que são atractivos para os consumidores."
Relatório Porter
Fica um pequeno comentário a uma passagem do texto relativa ao próprio conceito de design (e que é como o público em geral o vê). Quando se diz "as garrafas fáceis de identificar e de design apelativo", distinguem-se duas funções que, na realidade, não devem existir em separado. O conceito global de design incorpora essas funções. Isto é, o design de uma garrafa deve contemplar a informação e a persuasão. Erradamente, atribui-se ao design apenas valor estético quando é pela globalidade de funções que ele se afirma e se distingue da arte e da decoração.
Fica um pequeno comentário a uma passagem do texto relativa ao próprio conceito de design (e que é como o público em geral o vê). Quando se diz "as garrafas fáceis de identificar e de design apelativo", distinguem-se duas funções que, na realidade, não devem existir em separado. O conceito global de design incorpora essas funções. Isto é, o design de uma garrafa deve contemplar a informação e a persuasão. Erradamente, atribui-se ao design apenas valor estético quando é pela globalidade de funções que ele se afirma e se distingue da arte e da decoração.
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segunda-feira, 7 de dezembro de 2009
Sexy... Ma non troppo
A cor dos vinhos rosé tem uma forte carga apelativa. Muitos acrescentarão que também erótica. E tanto assim é que essa carga sensual tem sido explorada, quer através da própria imagem da garrafa, quer pela publicidade associada. Em Portugal, depois de alguma euforia, a moda dos rosés parece ter amainado...
Devemos começar por dizer que não será nova nem descabida a associação dos "prazeres da carne" aos prazeres do vinho. Mal ao mundo também não traz, já que sexo e vinho são "obras" da maturidade. A própria história mais remota do vinho contém exemplos eloquentes sobre esta ligação. Na mitologia das antigas civilizações da Mesopotâmia, por exemplo, conta-se que Inana, deusa do amor e fertilidade, utilizou o vinho como estratégia para seduzir os deuses do sexo oposto.
Os rótulos dos vinhos SEXY (Rosé, Tinto e Branco), da empresa Fita Preta, são bem desenhados: clara e eficaz hierarquia da informação (composta numa bela tipografia que combina moderno e clássico); bom equilíbrio de composição (espaço generoso envolvendo o nome); esteticamente elegantes. A escolha de cores segue o mesmo critério estilístico entre a tradição e a modernidade (questiona-se apenas a opção um tanto adstringente pelo rosa amagentado no Tinto). Resumindo: grafismo irrepreensível, jovem e macio, que parece ir de encontro à própria natureza do vinho alentejano proposto.
Acontece que a imagem projectada pelos rótulos SEXY, de sexy só tem o nome. É tudo menos erótica, ao contrário do que o próprio título literalmente quer sugerir. Nenhuma mulher ou homem será sexy por dizer que o é. E menos ainda por ostentar esse título. O erotismo constrói-se na interacção, não surge da imposição. Vivencia-se pelas sugestões, não pelas evidências. Ficamos com a sensação de que a adopção do nome não passou de uma estratégia de marketing.
A proposta deste conceito deveria ter sido visualmente mais consequente. Estamos em crer que faltou a opção iconográfica, que revelasse o erotismo de forma inteligente. Imagens que certamente dispensariam depois a evocação escancarada, pseudo-irreverente do nome, e que, com naturalidade, ancorariam o vinho nessa semântica de sensualidade. Dirão alguns que facilmente se poderia correr o risco de cair em "pornografias visuais"... Por isso o adjectivo "inteligente" faz toda a diferença. É que a qualidade da retórica visual para aqui requerida, tal como o erotismo, é um saber criativo que não estará ao alcance de todos.
Bela parceria, bela recompensa
Estivemos recentemente no Instituto Politécnico de Leiria a participar num Encontro sobre "Imagem Aberta", falando para uma plateia de estudantes de comunicação. De media, de tecnologia e do futuro se falou, mas também da broa de milho de Lamego e da imagem do vinho... Foi simpático, foi positivo e muito gratificante. O agradecimento dos responsáveis da instituição foi, no final, uma surpresa agradável, originando inclusivé este post. Em vez do típico azulejo pintado à mão com o logótipo da instituição, ou da peça de cerâmica que fica entre o útil e o inútil, entre o design kitsch e o artesanato regional, recebemos uma embalagem com três garrafas de Rocim Tinto 2005, Vinho Regional Alentejano, da Herdade do Rocim / Terralis.
A qualidade da imagem gráfica deste vinho mereceria, por si só, um artigo. O Rocim Tinto revela uma opção tipográfica clássica determinada, que recai na escolha dum tipo latino (Trajan, já aqui antes abordado). Todo o texto é composto irrepreensivelmente: no rótulo e no contra-rótulo; no título do vinho; na hierarquia e no seu alinhamento geral. Apresenta cores contidas mas com carácter (preto e prata) sobre um papel de qualidade, de bela textura, onde sobressai, sem ser ostensivo, o corte serrilhado, acrescento discreto de contemporaneidade.
A toda esta harmonia visual, mas seguramente ao seu néctar, em boa hora o IPL se resolveu juntar. E fê-lo com uma dignidade e elegância pouco habituais neste tipo de brindes e comunicação. Ambos respeitando o território de cada um. A solução é digna de registo: um prolongamento/duplicação do rótulo, contendo discretamente a identidade do IPL, sem ruído nem atropelo à marca Rocim, nem esta menorizando a entidade que ajuda a promover. (Um pequeno reparo a corrigir: o branco do papel dos dois elementos não é rigorosamente o mesmo; numa retórica de sobriedade e contenção, os pequenos pormenores são mais visíveis.)
Estão de parabéns as duas casas e, sem importar de onde partiu a ideia, devemos acima de tudo louvar estas belas parcerias de promoção mútua.
A qualidade da imagem gráfica deste vinho mereceria, por si só, um artigo. O Rocim Tinto revela uma opção tipográfica clássica determinada, que recai na escolha dum tipo latino (Trajan, já aqui antes abordado). Todo o texto é composto irrepreensivelmente: no rótulo e no contra-rótulo; no título do vinho; na hierarquia e no seu alinhamento geral. Apresenta cores contidas mas com carácter (preto e prata) sobre um papel de qualidade, de bela textura, onde sobressai, sem ser ostensivo, o corte serrilhado, acrescento discreto de contemporaneidade.
A toda esta harmonia visual, mas seguramente ao seu néctar, em boa hora o IPL se resolveu juntar. E fê-lo com uma dignidade e elegância pouco habituais neste tipo de brindes e comunicação. Ambos respeitando o território de cada um. A solução é digna de registo: um prolongamento/duplicação do rótulo, contendo discretamente a identidade do IPL, sem ruído nem atropelo à marca Rocim, nem esta menorizando a entidade que ajuda a promover. (Um pequeno reparo a corrigir: o branco do papel dos dois elementos não é rigorosamente o mesmo; numa retórica de sobriedade e contenção, os pequenos pormenores são mais visíveis.)
Estão de parabéns as duas casas e, sem importar de onde partiu a ideia, devemos acima de tudo louvar estas belas parcerias de promoção mútua.
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Rocim Tinto
A tradição do Douro e as modernices gráficas (II)
Para exemplificarmos o que foi dito na primeira parte deste artigo, escolhemos duas garrafas de estilos distintos do produtor Alves de Sousa. Premiado pela qualidade que tem apresentado nos vinhos que produz, deveria corresponder a semelhante exigência na imagem. (Um parêntesis para afirmarmos que nada nos move contra nenhum produtor, marca ou designer. Tentaremos sempre manter a distância jornalística no comentário, e sempre numa perspectiva construtiva. Uma coisa é certa: só falaremos da imagem de vinhos cuja garrafa bebamos até ao fim... E, mais fácil do que fazer um bom vinho, será alterar uma imagem gráfica.)
O Cume do Pereiro 2004, vinho tinto Douro de relação qualidade/preço apreciável, destaca-se por apresentar um rótulo excêntrico, uma "modernice" que parece contrariar o carácter do Douro. Ao apoiar a sua estratégia visual numa forma (um cortante especial), pretende sobressair pela novidade, esquecendo que a novidade por si só não constitui qualquer valor, ainda mais quando é semântica e plasticamente pobre. Trata-se de uma evocação estilizada — mas literal — do cume de um monte. É também uma forma desajustada em relação ao suporte (garrafa). A tipografia escolhida, geométrica e de estilo temporal marcante (Avant Garde, final dos anos 60), segue o mesmo critério anacrónico. Sob o ponto de vista informativo — e é este, quanto a nós, o ponto principal para a avaliação de um rótulo — teremos que voltar a garrafa para obtermos a informação mínima necessária. Parte do próprio nome do vinho (do Pereiro) é omitida. O contra-rótulo é um exemplo claro da falta de rigor na organização dos conteúdos e no desenho da informação mas, acima de tudo, de pouco respeito pelo leitor.
O segundo exemplo é o Quinta do Vale da Raposa Touriga Nacional 2005. Este vinho tinto do Douro, de preço mais elevado e com boas notas de classificação, mostra bem a diferença de qualidade que existe entre um conteúdo e um contentor. O seu rótulo aponta para uma maior sobriedade, seguindo uma opção tipográfica. Porém, o resultado global não afirma o carácter do vinho, antes evidencia fragilidades que denunciam o seu grafismo amador: a composição do título, à esquerda do rótulo, contraria a ordem sugerida pelo seu alinhamento central; apresenta uma hierarquia excessiva, com corpos (tamanhos de letra) desajustados; tem erros de composição (o entrelinhamento do texto é descuidado e na primeira linha do título, o espaço antes da palavra "do" é incompreensível); já para não falarmos do estranho elemento (tipo?)gráfico que domina o rótulo. O que é? E que justificação dar à repetição do nome no seu interior, agora fragmentado e em caixa baixa? (Qualquer imagem que nada acrescente à informação, transforma-se em ruído. E se não for entendida minimamente torna-se um equívoco.) Usar vernizes e relevos encarece um rótulo mas não lhe traz qualidade, se o que se enverniza ou releva não promover sentido. O contra-rótulo, uma vez mais, denuncia a falta de qualidade global, apresentando o texto principal negativado, alinhado à direita (erro comum de quem não tem em conta o leitor), já para não falarmos da sua dupla orientação (horizontal e vertical) e da diferença notória na qualidade do papel.
Outros exemplos mereciam críticas semelhantes como os Quinta da Estação, os Reserva Pessoal ou o Quinta da Gaivosa Vinha do Lordelo. Fica ainda uma nota incontornável: a imagem de identidade "Alves de Sousa" (logótipo) merece ser alterada quanto antes. Espelha precisamente as incongruências e o grafismo amador do que atrás se mencionou: desnecessária "mixórdia" tipográfica em caixa baixa, em algo que deveria representar seriedade e credibilidade institucional, principalmente para que tem demonstrado exigência e qualidade nos vinhos que apresenta.
Para terminar, e generalizando, não cremos que o mau resultado visual da imagem dos vinhos Douro seja apenas culpa de amadores com um computador à frente, ou de jovens designers (talvez os que não apreciam vinho), ou dos responsáveis pela promoção e pelo marketing que os encomendam... Dói que sejam os próprios produtores a aprovar, mas mais ainda, a rever-se nessas "pérolas". É que a qualidade de um qualquer produto ou artefacto emana de todas as suas "artes". Compete saber o lugar de cada uma.
O Cume do Pereiro 2004, vinho tinto Douro de relação qualidade/preço apreciável, destaca-se por apresentar um rótulo excêntrico, uma "modernice" que parece contrariar o carácter do Douro. Ao apoiar a sua estratégia visual numa forma (um cortante especial), pretende sobressair pela novidade, esquecendo que a novidade por si só não constitui qualquer valor, ainda mais quando é semântica e plasticamente pobre. Trata-se de uma evocação estilizada — mas literal — do cume de um monte. É também uma forma desajustada em relação ao suporte (garrafa). A tipografia escolhida, geométrica e de estilo temporal marcante (Avant Garde, final dos anos 60), segue o mesmo critério anacrónico. Sob o ponto de vista informativo — e é este, quanto a nós, o ponto principal para a avaliação de um rótulo — teremos que voltar a garrafa para obtermos a informação mínima necessária. Parte do próprio nome do vinho (do Pereiro) é omitida. O contra-rótulo é um exemplo claro da falta de rigor na organização dos conteúdos e no desenho da informação mas, acima de tudo, de pouco respeito pelo leitor.
O segundo exemplo é o Quinta do Vale da Raposa Touriga Nacional 2005. Este vinho tinto do Douro, de preço mais elevado e com boas notas de classificação, mostra bem a diferença de qualidade que existe entre um conteúdo e um contentor. O seu rótulo aponta para uma maior sobriedade, seguindo uma opção tipográfica. Porém, o resultado global não afirma o carácter do vinho, antes evidencia fragilidades que denunciam o seu grafismo amador: a composição do título, à esquerda do rótulo, contraria a ordem sugerida pelo seu alinhamento central; apresenta uma hierarquia excessiva, com corpos (tamanhos de letra) desajustados; tem erros de composição (o entrelinhamento do texto é descuidado e na primeira linha do título, o espaço antes da palavra "do" é incompreensível); já para não falarmos do estranho elemento (tipo?)gráfico que domina o rótulo. O que é? E que justificação dar à repetição do nome no seu interior, agora fragmentado e em caixa baixa? (Qualquer imagem que nada acrescente à informação, transforma-se em ruído. E se não for entendida minimamente torna-se um equívoco.) Usar vernizes e relevos encarece um rótulo mas não lhe traz qualidade, se o que se enverniza ou releva não promover sentido. O contra-rótulo, uma vez mais, denuncia a falta de qualidade global, apresentando o texto principal negativado, alinhado à direita (erro comum de quem não tem em conta o leitor), já para não falarmos da sua dupla orientação (horizontal e vertical) e da diferença notória na qualidade do papel.
Outros exemplos mereciam críticas semelhantes como os Quinta da Estação, os Reserva Pessoal ou o Quinta da Gaivosa Vinha do Lordelo. Fica ainda uma nota incontornável: a imagem de identidade "Alves de Sousa" (logótipo) merece ser alterada quanto antes. Espelha precisamente as incongruências e o grafismo amador do que atrás se mencionou: desnecessária "mixórdia" tipográfica em caixa baixa, em algo que deveria representar seriedade e credibilidade institucional, principalmente para que tem demonstrado exigência e qualidade nos vinhos que apresenta.
Para terminar, e generalizando, não cremos que o mau resultado visual da imagem dos vinhos Douro seja apenas culpa de amadores com um computador à frente, ou de jovens designers (talvez os que não apreciam vinho), ou dos responsáveis pela promoção e pelo marketing que os encomendam... Dói que sejam os próprios produtores a aprovar, mas mais ainda, a rever-se nessas "pérolas". É que a qualidade de um qualquer produto ou artefacto emana de todas as suas "artes". Compete saber o lugar de cada uma.
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