quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Os nomes dos vinhos

Reconhecemos que não deve ser fácil hoje em dia arranjar e aprovar um nome (dito) apelativo para um vinho, saindo da nomenclatura das quintas e dos lugares de cultivo da vinha. O impedimento de usar nomes de castas esgota referentes. Estabelecer uma ligação entre o nome e as características do vinho ou do lugar em questão parece ser uma atitude lógica. Contudo, sabemos que excessos de referências óbvias traduzem-se quase sempre em literalidade aborrecida. Mas não há necessidade de baptizar vinhos com carácter, vinhos sérios, com infantilidades, defeitos humanos, ou até mesmo com nomes "nonsense". Na ânsia de novidade e no deslumbre pela diferença, tem surgido ultimamente muita falta de bom senso e muitos disparates à mistura.

Gambozinos (coisa indefinida, inexistente, com que nos enganavam na infância), Egoísta (característica humana, desajustada dos valores civilizacionais actuais de solidariedade), Irreverente (atributo de quem não tem reverência, respeito pelo outro, mal-educado), Yes We Can (cópia do slogan da campanha política americana) são, entre tantos outros, nomes de vinhos portugueses que enunciam o que se disse.

Não há uma fórmula para criar um nome apelativo, simbólico e mnemónico como alguns fazem crer. Temos exemplos de nomes de vinhos prestigiados com características diversas (curtos, longos, sincopados, fechados, abertos, literais, abstractos, decifráveis, mudos, portugueses, estrangeiros...). O nome, tal como o design visual, não faz um vinho. Nem devemos esperar dele mais do que a capacidade de nomear e fixar o produto se este nos deixou referências. Pelo sim pelo não, o nome da quinta ou do lugar — quando exista bem definido — é sério e, se aprovado, não desmerecerá. Por ser tradicional em nada implica com o valor comunicativo. É que Maria e António são hoje nomes de crianças na moda, transversais a toda a nossa sociedade; depois de Constança e Martim, numa faixa, e de Vanessa e Rúben, na outra, terem feito furor.

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