segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Crítica cega ao design Borges Quintas

Um rótulo de um vinho não tem que contar uma história nem tem que recorrer sempre a elementos narrativos e simbólicos. A sua função principal é identificar e distinguir, e só depois caracterizar. Para cumprir estes propósitos, a cor, enquanto elemento comunicativo, pode ser uma opção inteligente.

A qualidade da nova imagem dos vinhos Borges Quintas (Verde, Douro e Dão) merece ser reconhecida. Principalmente porque, perante o programa difícil, a solução de design é eficaz. ("Programa" é, quanto a nós, o melhor termo português para substituir o badalado "briefing"). A proposta de unificar e diversificar em simultâneo não é fácil, isto é, através de argumentos de design gráfico, uma mesma marca/nome comunicar produtos tão distintos como vinhos Verde (branco), Douro e Dão (tintos). Assim, o elemento central da estratégia de design foi a cor. Ainda que a tipologia de garrafas ajude nessa caracterização (o Dão impõe a garrafa borgonhesa), as cores expressivas dos rótulos trouxeram uma forte distinção — identidade — e alguma caracterização e simbolismo. A solução do verde (mais frio), do amarelo (mais quente e intenso) e do rosa (quente mas mais macio) tem carácter e modernidade assumida. Tonalidades bem escolhidas, nada banais, que ligam com o preto do quadrado (marca) e da base do rótulo, elementos comuns à série. O contraste do verniz da marca/texto com a superfície mate (do papel) aveludada da cor, amplia o valor estético. A opção tipográfica é elegante e irrepreensível na composição. O uso de um só tipo de letra – moderno, não serifado – para os três vinhos acentua o carácter contemporâneo e faz a fusão entre eles. Nos contra-rótulos, o rigor informativo e o arranjo gráfico revelam o profissionalismo do design global.

A imagem gráfica Borges Quintas assume-se assim, claramente, como a melhor de toda a produção Borges (algo desigual em critérios de design) e uma das mais elegantes e modernas dos últimos tempos de vinhos portugueses.






















O título deste artigo surgiu a propósito de, num almoço recente com duas amigas (designers e ex-alunas na FBAUP), a autoria da imagem dos vinhos em causa nos ter sido revelada. O post estava quase pronto, por isso a conversa contornou habilmente o assunto.
O objectivo deste blogue não é promover ou despromover pessoas; antes reconhecer as qualidades do trabalho de design dos vinhos ou apontar a falta delas. Sabemos que o design se justifica pelo processo, mas é pelo resultado que a sua qualidade deve ser avaliada. Quantas vezes o reconhecimento dessa qualidade não vem apenas associado à notoriedade do seu autor? Ao apelidarmos de "crítica cega", estabelecendo a analogia com as provas cegas de vinhos, pretendemos aclamar a crítica ao design independente do seu autor.

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