Al Ries, especialista americano de marketing e publicidade — conhecido como "guru das marcas" e autor do livro "A Origem das Marcas"—, dizia em entrevista à TSF que uma marca, para vingar, terá que remeter o mais possível para o mesmo conceito ou função. É pela convergência, como refere, que o consumidor reconhecerá a dimensão máxima de uma marca até ao extremo de chegar a confundir o conceito/produto genérico com o próprio nome/marca. Os exemplos Coca-Cola, Gilette, Kispo ou Bic são sintomáticos para percebermos a sua ideia.
Quando associamos o nome Grão Vasco ao vinho, o Dão impõe-se. Por razões óbvias mas, como também referiu Al Ries, porque o Grão Vasco Dão foi o primeiro a conquistar a mente dos consumidores. E já lá vão algumas décadas. Claro que o próprio pintor renascentista português (e não medieval como se diz no site, exuberantemente animado, de apoio ao vinho Grão Vasco) terá vivido e trabalhado por aquelas bandas. O museu com o seu nome e com a sua obra mais significativa — e que se aconselha visitar, depois da intervenção do arquitecto Souto Moura — também está situado em Viseu. Tudo isto são ligações que não podemos evitar. Desconhecemos se a estratégia comercial da Sogrape, ao associar o nome Grão Vasco a vinhos de outras regiões, tem êxito. Desconhecemos também os pressupostos que a determinaram. Nem compete a este espaço essa análise, mas a pergunta é legítima em termos de comunicação. Habituados que estávamos ao Grão Vasco como Dão, teremos agora, e contrariando a teoria de Al Ries, capacidade de mudar facilmente a nossa mente e aderir a um Grão Vasco duriense ou alentejano?
Claro que o propósito que determinou este artigo não foi o marketing mas o design visual da trilogia dos tintos Grão Vasco (a exemplo do que fizemos com os Borges Quintas). A nova imagem do conjunto é graficamente cuidada e, sem ser brilhante, reconhecemos nela o devido profissionalismo, como vem sendo habitual na Sogrape. Constatamos contudo que, para vinhos com características tão distintas, a solução de design gráfico é muito questionável. Serão poucos os que não hesitarão ao tirar da prateleira o Grão Vasco pretendido. A tipologia de garrafa, seguindo o compromisso borgonhês do Dão, também ajuda ao equívoco, a par da mesma organização formal dos rótulos e da sua tipografia. Enquanto elementos distintivos, reconhecemos apenas: a cor na gargantilha e correspondente banda cromática no rótulo (onde se insere o nome da região); o pormenor iconográfico da pintura de Vasco Fernandes (imagens muito próximas) e o texto descritivo das castas em corpo pequeno. Demasiadas subtilezas para o consumidor menos atento diferenciar. Ou será que a confusão é propositada?
Unir o que é de unir e separar o que deve ser separado é uma regra básica em comunicação visual. Apanhar a boleia do êxito nem sempre significa uma boa opção. Principalmente quando na mesma carruagem viajam personalidades vincadamente distintas. Quase sempre tendem a confundir-se e, por consequência, a esbater-se.