Da construção narrativa complexa ao aproveitamento do acidente, da excentricidade material do luxo à colagem bruta do vernacular, a pós-modernidade tudo justifica. Ao propor a decoração por si só, mesmo quando se articula através de uma estrutura de ideias, de materiais, de funções, o que propõe é quase sempre o individualismo — sem identidade definida —, a moda, a irrealidade. A comunicação e o apelo aos sentidos que promove é evasiva e não requer compromisso. Quantas vezes não faz desse monólogo o argumento do seu programa?!
Um rótulo ou uma imagem pós-moderna de um vinho não é diferente. Valoriza quase sempre a irrealidade, a estória e a moda, em vez do material, do objecto e da adequação. No último concurso de imagem do vinho organizado pela Revista de Vinhos (embora demasiado regional, o júri incluía, felizmente, profissionais de design), o prémio mais importante foi para um vinho cujo design de imagem poderemos situar nessa valorização decorativa pós-moderna — o vinho Arrepiado Regional Alentejano tinto 2007 da Herdade do Arrepiado.
Imagem excêntrica, entra-nos na mente pelo seu lado decorativo, barroco, de exuberância formal. Informação reduzida, carácter evasivo mas de forte apelo visual, encontra justificação plena nas palavras da sua autora: "O meu principal objectivo quando desenho é comunicar, e comunicar sem grandes argumentos e explicações, de forma o mais intuitiva possível. Tento acrescentar ao produto sensações visuais interessantes que joguem com todos os sentidos (...)"
Não pondo em causa o objecto premiado, não nos entusiasma nem a solução nem o método. Um rótulo ou uma imagem de um vinho é sempre um projecto de design. Por mais intervenientes de outras áreas que interfiram ou de ideias que abrace durante o processo. Enquanto projecto, deve obedecer a um programa, identificar a hierarquia de funções e apresentar soluções inovadoras ou conservadoras que o sirvam. Os designers têm hoje a obrigação de saber reconhecer as limitações da modernidade mas também a nebulosidade pós-moderna que nem sempre permite vislumbrar o essencial.
Imagem excêntrica, entra-nos na mente pelo seu lado decorativo, barroco, de exuberância formal. Informação reduzida, carácter evasivo mas de forte apelo visual, encontra justificação plena nas palavras da sua autora: "O meu principal objectivo quando desenho é comunicar, e comunicar sem grandes argumentos e explicações, de forma o mais intuitiva possível. Tento acrescentar ao produto sensações visuais interessantes que joguem com todos os sentidos (...)"
Não pondo em causa o objecto premiado, não nos entusiasma nem a solução nem o método. Um rótulo ou uma imagem de um vinho é sempre um projecto de design. Por mais intervenientes de outras áreas que interfiram ou de ideias que abrace durante o processo. Enquanto projecto, deve obedecer a um programa, identificar a hierarquia de funções e apresentar soluções inovadoras ou conservadoras que o sirvam. Os designers têm hoje a obrigação de saber reconhecer as limitações da modernidade mas também a nebulosidade pós-moderna que nem sempre permite vislumbrar o essencial.
Confundir Design com Decoração acontece...e no que trata rótulos e garrafas de vinhos poderá existir casos em que realmente a decoração se oponha ao Design...respeitando a sua opinião tenho de defender-me dizendo-lhe que este projecto obedeceu a uma profunda pesquisa etnográfica no local, com muita gente envolvida, onde eu enquanto designer, e não decoradora, participei nas vindimas, provei cada lote e troquei ideias com todos os intervenientes desde produtores, enólogo, até aos caseiros que tratam das vinhas e cuidam delas com toda a dedicação. O resultado enquanto projecto, obdeceu a um programa muito sério e com contornos pouco usuais, visto que hoje os designer sentam-se nas suas cadeiras fazendo projectos que se passam longe e dos quais não têm qualquer referência visual, olfativa, táctil, sentimental até, e por isso o resultado é muitas vezes impessoal e desligado do objecto para o qual estão a projectar. Por estas e mais razões este trabalho foi tão premiado tanto em Portugal como no estrangeiro, tendo sido até considerado um dos 30 mais brilhantes do mundo...É preciso ter algum cuidado ao avaliar trabalhos de colegas, por vezes um resultado analisado aos olhos de um "decorador" pode ter um significado diferente daquele que um "designer" pode decifrar.....
ResponderEliminarAntes de mais quero agradecer o seu comentário construtivo. Mesmo discordando podemos construir pensamento que enriqueça ambas as partes... E terceiros, já agora. É esse o objectivo deste blogue.
ResponderEliminarTambém quero afirmar que não questionei a qualidade do seu trabalho nem o classifiquei negativamente como "decoração". Contudo, os prémios são matéria discutível e não garantam por si só qualidade. Nem a decoração é negativa.
Assim:
1. O principal objectivo do meu post foi, como deve ter entendido, falar da pós-modernidade que encanta ainda hoje tantos jovens designers e que eu encontrei um pouco espelhado nas escolhas do júri do concurso em causa (tirando o designer e amigo Henrique Cayatte, não conheço os outros membros). Mas que também encontrei, legitima e honestamente, nas suas palavras: "comunicar sem grandes argumentos e explicações, de forma o mais intuitiva possível". Por isso fiz, também honestamente, as associações que fiz. Como deve ter reparado, não é a minha "escola". Prefiro ainda a construção do ideal moderno à desconstrução pós-modernista. E disso dou conta, e sempre com argumentos, nos textos que vou escrevendo. E que não são isentos, claro. Como referiu o aquitecto Souto de Moura a propósito da Casa da Música: "Acho bonito, mas o futuro da arquitectura não é aquele.(...) é um pós-modernismo: nós ainda não resolvemos os problemas que ele critica (...) precisamos da gramática da construção e não da desconstrução. A desconstrução é um luxo das sociedades pós-industriais."
2.Sobre o rótulo propriamente dito e o seu processo de construção, parece-me honesto dentro da gramática exposta. E temos que o ler sem espreitar os bastidores. Daí que também seja honesta a leitura mais epidérmica que o espectador faça. Ainda que só veja a parte menor do iceberg. Como sabe, o design justifica-se pelo processo mas avalia-se pelo resultado. Não sou tão optimista em relação ao potencial sinestésico de uma imagem gráfica e menos ainda de um rótulo. Sou mais sensível ao próprio conteúdo mas compreendo o seu percurso e a sua "memória descritiva".
3. O cuidado que presidiu à minha análise (mais do que a crítica, neste caso), foi o mesmo de sempre. Repito que nada referi como sendo depreciativo porque o seu trabalho em causa não o merece. Apenas disse que não me entusiasmou nem o resultado nem o método. Referindo mesmo que não punha "em causa o objecto premiado". Creio que não terá percebido bem os meus argumentos como, creio, ter entendido os seus.
4. Concluo que o conceito de decoração — que foi o mote do post — agrada-me sempre que integrado num discurso que o justifique. Mas para mim a função principal de um rótulo ainda é a informação e só depois vem o resto... O problema está na qualidade da informação.