quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Galhofa tipográfica

Subsiste hoje, em Portugal, entre os jovens designers gráficos, uma febre pela tipografia que tarda em amainar... (Actualmente, chama-se tipografia ao estudo/saber e uso das letras. Não é mais a empresa que imprime os rótulos, as facturas ou os catálogos.) Esta área de conhecimento, que esteve arredada dos currículos académicos — mesmo os mais especializados — até à década de 70, afirmou-se pois tardiamente, tornou-se moda e encantou muitos designers. A ponto de os cegar. Pelo menos no que toca à visão das prioridades na comunicação escrita, isto é, sempre que a obsessão pela forma (desenho) das letras e sua composição (critérios de organização do texto) se sobrepõe ao conteúdo, à legibilidade e ao conforto visual do leitor. E, quantas vezes, ao próprio sentido da mensagem.

Temos referido com alguma insistência a má qualidade tipográfica dos rótulos e contra-rótulos dos vinhos portugueses. Mesmo os rótulos dos vinhos de qualidade e de preço elevado. E seria "tão fácil" seguir — no mínimo — critérios de rigor técnico quando não se conseguem atingir os da eloquência!... 

O rótulo do vinho Fraga da Galhofa, Douro 2007 Tinto (tal como o Branco e o Rosé), da Vinilourenço é, de facto, uma galhofa tipográfica. Representa o encantamento de que falávamos, traduzido na má expressão tipográfica. Alia uma miscelânea de corpos (tamanhos) de letras no título (quando a opção foi por um tipo clássico) à tentativa de figurar um galho de videira com parras e cacho de letras (!). Remete a informação que mais pode interessar ao consumidor para um formato legenda, na vertical, e em corpo menor. Resultado: rótulo pouco funcional, má ilustração, título anacrónico e desequilibrado e design global pouco sério. É que "galhofa" significa "brincadeira", "gracejo" ou "escárnio"... E se o nome da Fraga que dá título ao vinho já é "da Galhofa", será inapropriado acentuar o conceito. Um vinho sério e bem feito, como este, merecia um rótulo a condizer e não a imagem tipográfica que exibe.

Em jeito de conclusão, valerá a pena citar a máxima de um amigo: Letras são letras e conhaque é conhaque!




quarta-feira, 1 de setembro de 2010

O cuidado com as semelhanças

Depois de elogiarmos a imagem global "colheita tardia" M, da Herdade da Mingorra, recebemos alguns comentários apontando o facto da imagem parecer demasiado colada ao design de duas bebidas: um ponche sueco Blossa Glögg, e um whisky canadiano, Bull-a-Rook. Inspiração ou coincidência? Cópia declarada? Não cremos... Nada retiramos à crítica então feita. Reforçamos a ideia de que, ainda que sem os atributos de eloquência das embalagens em causa — e que aqui se mostram —, a imagem do vinho M distingue-se dos demais vinhos da Herdade e da maioria da produção nacional concorrente. Pela elegância do seu grafismo, contemporaneidade e, acima de tudo, pela adequação do design, continua a merecer o nosso elogio.

A cópia ou o plágio, a inspiração ou a citação, muitas vezes a simples semelhança ou coincidência, têm sido alimento de longas conversas e polémicas — e de invejas e frustrações —, principalmente entre designers mal formados. Sabemos que é o sentido ético de cada designer que determina os procedimentos correctos num projecto. Mas isso nem sempre chega. Para se evitar dissabores, é de todo conveniente possuir uma vasta cultura e um conhecimento actualizado do "estado da arte".


Quantos clientes não nos abordaram já, dizendo que pretendem uma solução de design igual à que viram na revista x ou no concorrente y?! Seja por desconhecimento do que isso implica, ingenuidade, atrevimento ou mesmo pura pilhagem, competirá pois ao designer exercer o seu papel profissional, ético e pedagógico. Mesmo correndo o risco de perder um cliente para sempre.