O vinho Brutalis 2005, das Caves Vidigal (Leiria), afirma-se ostensivamente como um vinho distinto. Uma ideia que nos agrada sobremaneira. Declara, no seu contra-rótulo, que é contra a globalização e massificação tipológica a que hoje vamos assistindo nos vinhos. De facto, o sentido comercial tem determinado o esbater das diferenças no actual panorama do vinho. É que vinhos para se beberem a todas as horas, e em quaisquer circunstâncias, tendem a ser vinhos com menor carácter. Sabemos que fazer dinheiro com a venda de vinho será semelhante a fazer dinheiro com a venda de um outro produto qualquer. E isso implica forçosamente estratégias de padronização e quantidade. Estratégias que vendem mas que serão contrárias à produção singular, que segue o terroir e as características regionais das castas, da cultura local e do clima.
O Brutalis, ao pretender ser um grito contra essa padronização, apresenta uma imagem que não ajuda. Ainda que lembre remotamente um manifesto — o que seria interessante e coerente —, as componentes gráfica, expressiva e técnica do seu rótulo são de má qualidade. Ausência de critério nas opções pelos diversos tipos de letra, nos seus pesos, na composição do texto (confusa e a preencher todo o espaço); terminando numa má impressão em papel duvidoso... Uma brutalidade (e não "brutal" de espanto, como se desejava), para usar o título do vinho.
Parece que os vinhos interessantes se vêem cada vez mais condenados a serem apenas vinhos simpáticos (à falta de outro adjectivo). Tal como os rótulos. Fazem falta neste universo da massificação – vínica e gráfica – os gritos e os "manifestos". Mas apenas aqueles cujo conteúdo, propósito, rigor de discurso e de forma se assumam por inteiro e com coerência. Senão viram-se contra si mesmos e confundem-se com mais uma birra de menino irreverente, mal educado.
domingo, 31 de outubro de 2010
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