Nenhum rótulo de vinho ganha eficácia ou eloquência por inserir, chapado, o "cromo" de um artista famoso. A reprodução de obras de artistas célebres tem sido, ao longo dos tempos, uma tendência de algumas casas/marcas de vinhos como recurso e estratégia visual. São sobejamente conhecidos os rótulos da casa Château Mouton Rothschild que, desde 1946, reproduzem obras de Dalí, Miró, Chagall, Kandinsky, Picasso, Andy Warhol... Em Portugal, obras de Cargaleiro, Resende, Pomar, Siza Vieira, José de Guimarães, Cabrita Reis, etc., têm aparecido nos últimos anos estampadas em rótulos de várias casas produtoras. Tentativa de prestigiar o vinho através das Belas-Artes (as ditas nobres), reconhecemos contudo que, na maioria das vezes, a qualidade comunicativa desses rótulos não apresenta qualquer valor acrescido para além da estampa mais ou menos famosa que exibem. É estritamente sobre os planos simbólico (do prestígio do autor) e decorativo (do valor plástico) que estas imagens actuam. Design e arte apresentam assim, normalmente, dois discursos paralelos — que não se encontram. Ainda que o discurso gráfico-plástico de cada artista seja notoriamente distinto ou eloquente, o resultado global pode ver anulada essa característica quando o design do rótulo se revela insípido ou mesmo mau.
Defendemos a ideia que o melhor design (em qualquer artefacto ou mensagem) é aquele que nos permite estabelecer o maior número de ligações de sentido. Se se pretende ancorar a expressão e o prestígio de um determinado artista ao vinho ou à empresa, a solução terá de passar por um projecto coordenado por um designer competente. Um rótulo é sempre um dispositivo de design visual. Texto, imagem e vinho — ou design, arte e vinho — sendo bem distintos, podem conviver em perfeita sintonia desde que se compreendam e não se atropelem. Todos ganham se as ligações forem perfeitas.
terça-feira, 20 de abril de 2010
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