terça-feira, 9 de março de 2010

O belo, o bom e o útil — Esporão Monocastas

Giambattista Bodoni, tipógrafo italiano do séc. XVIII, no seu Manuale Tipografico (Parma, 1818) referia o belo, o bom e o útil como atributos para a excelência na comunicação tipográfica. Adaptados aos dias de hoje, e no que concerne ao design, esses conceitos mantêm-se actuais. Os dispositivos gráficos (livros, cartazes, sites, rótulos, etc.) existem essencialmente para levar informação a quem dela necessita ou recorra — serem úteis. Quando expõem a informação com rigor formal e conceptual, sem ruídos, significa serem bons. Ao apresentarem a informação de modo a que toque a nossa sensibilidade e crie apetência, significa serem belos... No entanto sabemos que organizar muitos conteúdos informativos de forma clara, harmoniosa, e obter com o resultado valor expressivo, não é tarefa fácil. É quase sempre um desafio que põe à prova as competências dos designers.

A Herdade do Esporão tem vindo a renovar a imagem gráfica dos seus vinhos com critérios de excelência. Temos acompanhado de perto essa mudança e razões houve já para dela se falar aqui... Analisamos agora o conjunto dos novos Esporão Monocastas (Aragonês, Alicante Buschet e Touriga Nacional), vinhos alentejanos de qualidade reconhecida e preço considerável. Trata-se de uma mudança radical, mais do que necessária, num produto que o exigia. A nova imagem dos Monocastas assenta em três vectores fundamentais: informação textual exaustiva, informação iconográfica contida e ausência de elementos decorativos. A opção espartana da iconografia (parra das castas e mapa de localização de Portugal) parece esconder o cuidado apurado do design global. Mas uma atenção redobrada revela-nos o sentido expressivo dos pormenores. A utilização de relevo e verniz reforça esse sentido. A cor segue o mesmo critério de sobriedade. Cada vinho/casta é caracterizado por tons escuros, sofisticados e elegantes — cinza, azul plúmbeo e castanho — no logótipo, nos títulos do texto e sobretudo na gargantilha (atendendo à difícil execução técnica do nome na vertical, dispensava-se aqui a sua inclusão). É o texto (tipografia) que, contudo, domina a imagem da garrafa. Começando pelas iniciais, que se impõem pelo seu corpo, espessura e elegância geométrica de desenho. Estendendo-se depois por colunas harmoniosas e funcionais, bem compostas no mesmo tipo moderno, e impressas num papel cru, texturado, de formato considerável. Falam, de forma técnica e rigorosa — e sem os exageros apologéticos tão típicos em casos semelhantes — da vindima, da casta, do terroir... Como se de um jornal aberto se tratasse. Não cansam nem têm que ser lidas em sequência. O resultado é o da beleza da simplicidade funcional. Design que afirma e prestigia a relação entre a exigência do conteúdo e do contentor.

Ao evocarmos Bodoni, o Belo, o Bom e o Útil, relevamos a importância das funções num projecto de design. Ao mesmo tempo que reconhecemos que a beleza não tem que estar na decoração mas na própria funcionalidade. Sempre que utilidade, qualidade e beleza se fundem, emerge o melhor significado do design.



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