terça-feira, 28 de junho de 2011

Design assim-assim

Design "assim-assim" quer dizer que nem é bom nem mau. Mas sempre é melhor do que mau. Perante um design assim-assim sabemos que alguma coisa falha.

A imagem do Bétula Branco 2009 tem um design assim-assim. Apresenta um rótulo contido que objectiva a elegância e a modernidade. Segue a orientação de limpeza textual que hoje tanto se procura. (Reforça-se a expressividade da comunicação – referentes estético-simbólicos – em detrimento da carga informativa, remetendo-se esta para o contra-rótulo. E a opção é mais do que justificada já que os elementos obrigatórios a incluir nos rótulos são demasiados e muitas das regras visuais são amadoras.) Foi essa a opção do Bétula. Rótulo iconográfico, aparentemente abstracto, cuja ilustração – evocando ramos de bétula – se afasta da representação literal. Se a imagem se afirma neste sentido: expressiva, moderna e sensível de desenho, já a tipografia destoa. O tipo de letra usado revela-se uma escolha anacrónica: é demasiado marcante e condiciona a imagem, desvirtuando-a. Desenhado por Carol Twombly em 1989, o tipo Lithos inspira-se nos caracteres lapidares gregos. O seu padrão genético nada tem a ver com a geografia e a semântica do Douro (ainda que falemos aqui de Resende) nem se enquadra na nossa tradição tipográfica, de cariz latino. Muito menos se trata de um tipo funcional para texto informativo, por isso também não se entende a sua adopção para toda a literatura do contra-rótulo. Concluímos com um reparo para a dissonância cromática e exagero gráfico da gargantilha.

Apesar do que se disse, a imagem do Bétula não é má. Contudo, é bem melhor o vinho do que o seu visual. Bastaria um pouco mais de conhecimento de design tipográfico para que a harmonia se estabelecesse. Recomendam-se pois o vinho para este Verão e maior investimento no seu design gráfico para o próximo ano.

Nota: Este comentário crítico é o primeiro feito sobre um vinho enviado pelo produtor para apreciação. Os nossos agradecimentos aos responsáveis pelo seu envio.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

A imagem do vinho em revista e as tendências

Um inquérito recente veio revelar que a imagem, a cor e o preço são os factores que mais condicionam a opção de compra do vinho no Reino Unido. O estudo não aponta preferências mas o facto da imagem ser, por si só, tão determinante deve constituir uma preocupação séria para quem produz, comercializa e exporta vinho.

Ao encontro desta preocupação veio também, muito a propósito, o último número (44) da revista Paixão pelo Vinho. Num artigo intitulado "A Imagem do Vinho", Maria Helena Duarte tenta sensibilizar os seus leitores para esse factor determinante que é a comunicação visual do vinho. Pena que o artigo não tivesse sido mais profundo, mais esclarecedor e mais rigoroso. Afirmações como "a Grafismos com Alma quer captar a alma do vinho, para que num olhar, ele seja único entre tantos" elucidam muito pouco. Desconfiamos destas ideias de natureza emocional: quase sempre menosprezam a vertente técnica do processo. Já a passagem sobre a importância do programa num projecto de imagem do vinho, por exemplo, merecem o nosso elogio. Mas é na referência às "tendências" que o artigo se torna menos rigoroso. Diz-se: "Fazendo uma pesquisa pelo mundo, ao nível da imagem, verifica-se que as tendências atuais passam pela utilização de ilustrações, tipografias diversas, ambientes retro, cortantes mais ousados, altos relevos e texturas (...)". Nada que não tivesse já sido feito em rótulos portugueses de Vinho do Porto nos anos 20, 30 ou 40. A mudança acontece hoje, essencialmente, pelo lado da retórica e da semântica da comunicação gráfica. A ideia de tendência – importada do mundo da moda – torna-se uma fragilidade em design. É contrária à sua natureza projectual. Um bom projecto de imagem de vinho não deve ir atrás de tendências mas antes direccionar o apelo criativo para a procura de soluções, inovadores ou conservadoras, que mais se adequem ao propósito do programa.
O artigo termina referindo a necessidade de uma estratégia global para a comunicação do vinho. Estratégia que não deve passar apenas pelo rótulo. MHD dá aqui uma boa ajuda na contextualização do problema.

Por tudo o que se disse, e embora contendo falhas evidentes – repete o mesmo texto em duas páginas, não legenda nem inclui créditos autorais nos exemplos que mostra –, o artigo é um contributo pertinente e merece uma leitura.

Nota: Qualquer publicação que tenha como propósito divulgar o vinho não pode deixar de lado a sua comunicação. Estranhamos que as outras duas revistas (Revista de Vinhos e Wine) o não façam regularmente. Para lá dos concursos que promovem, as referências ao design de imagem do vinho não têm sido, infelizmente, presença assídua em nenhuma delas.