quarta-feira, 8 de junho de 2011

A imagem do vinho em revista e as tendências

Um inquérito recente veio revelar que a imagem, a cor e o preço são os factores que mais condicionam a opção de compra do vinho no Reino Unido. O estudo não aponta preferências mas o facto da imagem ser, por si só, tão determinante deve constituir uma preocupação séria para quem produz, comercializa e exporta vinho.

Ao encontro desta preocupação veio também, muito a propósito, o último número (44) da revista Paixão pelo Vinho. Num artigo intitulado "A Imagem do Vinho", Maria Helena Duarte tenta sensibilizar os seus leitores para esse factor determinante que é a comunicação visual do vinho. Pena que o artigo não tivesse sido mais profundo, mais esclarecedor e mais rigoroso. Afirmações como "a Grafismos com Alma quer captar a alma do vinho, para que num olhar, ele seja único entre tantos" elucidam muito pouco. Desconfiamos destas ideias de natureza emocional: quase sempre menosprezam a vertente técnica do processo. Já a passagem sobre a importância do programa num projecto de imagem do vinho, por exemplo, merecem o nosso elogio. Mas é na referência às "tendências" que o artigo se torna menos rigoroso. Diz-se: "Fazendo uma pesquisa pelo mundo, ao nível da imagem, verifica-se que as tendências atuais passam pela utilização de ilustrações, tipografias diversas, ambientes retro, cortantes mais ousados, altos relevos e texturas (...)". Nada que não tivesse já sido feito em rótulos portugueses de Vinho do Porto nos anos 20, 30 ou 40. A mudança acontece hoje, essencialmente, pelo lado da retórica e da semântica da comunicação gráfica. A ideia de tendência – importada do mundo da moda – torna-se uma fragilidade em design. É contrária à sua natureza projectual. Um bom projecto de imagem de vinho não deve ir atrás de tendências mas antes direccionar o apelo criativo para a procura de soluções, inovadores ou conservadoras, que mais se adequem ao propósito do programa.
O artigo termina referindo a necessidade de uma estratégia global para a comunicação do vinho. Estratégia que não deve passar apenas pelo rótulo. MHD dá aqui uma boa ajuda na contextualização do problema.

Por tudo o que se disse, e embora contendo falhas evidentes – repete o mesmo texto em duas páginas, não legenda nem inclui créditos autorais nos exemplos que mostra –, o artigo é um contributo pertinente e merece uma leitura.

Nota: Qualquer publicação que tenha como propósito divulgar o vinho não pode deixar de lado a sua comunicação. Estranhamos que as outras duas revistas (Revista de Vinhos e Wine) o não façam regularmente. Para lá dos concursos que promovem, as referências ao design de imagem do vinho não têm sido, infelizmente, presença assídua em nenhuma delas.

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