segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Concursos

Todos os concursos onde o gosto popular é lei são pobres culturalmente e, por conseguinte, servirão para muito pouco. A inutilidade deste tipo de eleições tem ainda a agravante de se tornarem pedagogicamente perigosas. Mostram ao público maus exemplos, enquadrados em ambientes enganosos de qualidade.

A última edição da revista Divinum, (revista quadrimestral sobre vinhos, da responsabilidade da Hdem Lda e que tem distribuição gratuita com o jornal Público) dá conta de um concurso de rótulos de vinhos, pomposamente apelidado de Wine Design. Antes de mais temos de apontar a incorrecção do título, já que não se trata de um concurso de Design: não se apura a qualidade do design do vinho (uma boa tradução de "wine design" seria "desenho, construção do vinho") nem se apura a qualidade do design da sua embalagem. O concurso propõe apenas uma votação popular, via internet, www.revistadivinum.com, num conjunto de rótulos submetidos à referida eleição. Assim, a única designação credível que o concurso deveria ostentar seria "O rótulo/imagem do vinho mais popular". Não se pode aferir a qualidade do design se, no mínimo, não se constituir um painel de jurados integrado maioritariamente por especialistas em design. Se equacionarmos que mais de 80% dos rótulos são tipografia; que dispomos hoje de milhares de tipos de letra; e que a grande maioria do público pouco mais decifra nas letras do que as palavras que estas representam... Que tipo de julgamento farão? Imagine-se, por analogia, um concurso de premiação de vinhos onde fosse o público a dar o veredicto final em vez de um painel de provadores. 
Não está em causa a importância do gosto e a aceitação popular do design, mas essa aferição tem muito pouco a ver com critérios de excelência. Não é por acaso que os dois rótulos mais votados da terceira fase (Xara 2007 Reserva e Cabeça de Toiro Reserva 2005) são banalidades gráficas com opções tipográficas, nos títulos, muito duvidosas.

A responsabilidade sobre a determinação da qualidade em cada ofício deve ser atribuída a quem sabe. Não porque se trate de preservar o controlo corporativo, mas porque os saberes (neste caso os da comunicação visual e da estética) são cada vez mais complexos e com maior especialização. Senão para que serve o investimento do Estado em escolas superiores de design? 


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