segunda-feira, 14 de março de 2011

O excesso de "brand" no vinho

A ideia de marca (brand, para quem gosta do termo em inglês) persegue-nos por todo o lado. Da garrafa de água ao molho de coentros, passando pelos serviços e iniciativas estatais (Simplex, Allgarve), todos os produtos, naturais ou processados, bons ou maus, essenciais ou inúteis, parecem estar hoje condenados ao implacável "espírito da identidade".

Os vinhos portugueses não são excepção. Centenas de novos produtores multiplicam todos os anos nomes, categorias, sub-categorias de nomes de vinhos regionais e, ultimamente, vinhos de mistura de regiões e até vinhos "apátridas". Uma confusão para o consumidor menos atento já que até os vinhos de um mesmo produtor se apresentam com imagens distintas e distantes entre si. Investe-se cada vez mais no design e no "conceito" dos nomes. Todos procuram "algo diferente". Para isso elaboram-se narrativas e, quantas vezes, discursos sem essência (ver texto anterior), mas para quê? Para que um determinado vinho, semelhante a tantos outros, pretenda um significado para o qual não tem potencial. A excessiva e forçada individualidade imposta aos produtos denuncia quase sempre o contrário: ausência de carácter.

A empresa japonesa MUJI, recentemente chegada a Portugal (que nada tem a ver com vinhos, embora no Japão se dedique também à alimentação), apostou há mais de trinta anos na inversão deste processo. O nome MUJI, sendo ele já uma marca, significa "sem marca". Esta aparente incoerência não mancha o essencial, que aqui se pretende relevar: o investimento que a empresa faz não numa filosofia de marca mas antes no design, na qualidade global de cada produto que vende. E a preços razoavelmente justos.

Por tudo isto podemos afirmar que faz falta aos vinhos portugueses um pouco da estratégia MUJI. A exemplo do excesso de madeira no vinho que caracterizou a nossa produção nos últimos anos – e que felizmente passou de moda –, esperemos que o mesmo suceda ao excesso de identidade, de efeitos visuais, de marcas e de nomes. Que a lógica e a credibilidade da comunicação vinguem pelo mais importante: a qualidade do vinho. Já que mais não seja para bem dos consumidores.

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